terça-feira, 5 de maio de 2009

envelheço na cidade


amanheço na cidade.

o sol invade meu quarto, convidativo, enquanto meu corpo resmunga contra a entrada mal vinda. já não durmo tão bem e acordo antes do despertador tocar - esta porcaria não me serve mais para nada. ao levantar-me, sinto pesar nas costas o cansaço acumulado das noites frustradas.

arrumo-me lentamente e saio de casa. durante o caminho, evito contato visual com qualquer pessoa. não tenho interesse em trocar sorrisos e compartilhar pensamentos. não acredito na hipocrisia das pessoas que tentam se convencer do prazer dos dias repetitivos.

cumpro meus deveres e volto para casa. logo que chego, acendo um cigarro e encho meu copo de uísque para aproveitar o único momento de tranqüilidade do meu dia. debruço-me na minha sacada e fixo meus olhos no horizonte, na expectativa de encontrar nele algo que me conforte e embriagar-me de álcool e desejos.

mas não, não há mais tempo para se sonhar. sou o fruto negro da minha geração. não devo sonhar, devo fazer ou perecer. acabaram-se as bebidas e os anseios, as brincadeiras e as ambições. restaram-me uma úlcera e 3 contas vencidas para pagar.

encaro minha realidade e a minha decadência. meu corpo clama por um caixão e minha mente ameaça entrar em colapso. entrego-me ao poder das pílulas para enfrentar sete horas de insônia.

envelheço na cidade.

não há mais o que fazer a não ser chorar as lágrimas amargas que encharcam a minha solidão.

perdi minha expectativas. perdi minhas esperanças. perdi minha vida sonhando com coisas que nunca serão.

5 comentários:

  1. "(...) Por mais paradoxal que possa parecer, a solidão é doença nativa da cidade, das grandes aglomerações humanas. Nas cidades, por ironia de Deus ou do diabo, os solitários são muitos e estão em todos os lugares. Seguem morrendo aos poucos nos bares e dentro de quartos, varando madrugadas sinistras com a ajuda da pornografia em banda larga e álcool, muito álcool. Eles estão nos cinemas, comendo pipocas sozinhos. E nos escritórios, calados e comportados atrás de seus computadores." - Do prefácio de A Cabeça é a Ilha

    André Dahmer batendo na cara de todos

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  2. "sou o fruto negro da minha geração" = preto leal

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  3. Eu tenho quase certeza
    de que estou no lugar errado
    Mas se eu não me engano,
    eu posso estar enganado

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  4. bonito o jeito em que me reconheço. dividindo dores e amores.

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